domingo, 24 de maio de 2009

Regina Duarte também tem medo de índio!

A atriz global e pecuarista Regina Duarte, em discurso na abertura da 45ª Expoagro, em Dourados (MS), disse que está solidária com os produtores e lideranças rurais quanto à questão de demarcação de terras indígenas e quilombolas no estado.
“Confesso que em Dourados voltei a sentir medo”, afirmou a atriz, neste domingo (18), com referência à previsão de criação de novas reservas na região de Dourados. “O direito à propriedade é inalienável”, explicou ela, de forma curta, grossa e maravilhosamente elucidativa o que faz do BRASIL um Brasil. Em verdade, ela deve estar sentindo medo desde a campanha presidencial de 2002…
(O deputado Ronaldo Caiado, principal defensor desses princípios, deveria cobrar royalties de Regina Duarte… Inalienáveis deveriam ser o direito à vida e à dignidade, mas terra vale mais que isso por aqui.)
“Podem contar comigo, da mesma forma que estive presente nos momentos mais importantes da política brasileira.” Ela e o marido são criadores da raça Brahman em Barretos (SP).
Dos 60 assassinatos de indígenas ocorridos no Brasil inteiro em 2008, 42 vítimas (70% do total) eram do povo Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, de acordo com dados DO Conselho Indigenista Missionário (Cimi). “Ninguém é condenado quando mata um índio. Na verdade, os condenados até hoje são os indígenas, não os assassinos”, afirma Anastácio Peralta, liderança do povo Guarani Kaiowá da região.
“Nós estamos amontoados em pequenos acampamentos. A falta de espaço faz com que os conflitos fiquem mais acirrados, tanto por partes dos fazendeiros que querem nos massacrar, quanto entre os próprios indígenas que não têm alternativa de trabalho, de renda, de educação”, lamenta Anastácio Peralta.
A população Guarani Kaiowá é composta por mais de 44.500 indígenas. Desse total, mais de 23.300 estão concentrados em três terras indígenas (Dourados, Amambaí e Caarapó), demarcadas pelo Serviço de Proteção ao Índio (criado em 1910 e extinto em 1967), que juntas atingem 9.498 hectares de terra. Enquanto os fazendeiros, muitos dos quais ocuparam irregularmente as terras, esparramam-se confortavelmente por centenas de milhares de hectares. O governo não tem sido competente para agilizar a demarcação de terras e vem sofrendo pressões até da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). Mesmo em áreas já homologadas, os fazendeiros-invasores se negam a sair - semelhante ao que ocorreu com as Terras de Raposa-Serra do Sol.
É esse massacre lento que a pecuarista apóia, como se as vítimas fossem os pobres fazendeiros. Só espero que, na tentativa de apoiar a causa, ela não resolva levar isso para a tela da TV, em um épico sobre a conquista do Oeste brasileiro, nos quais os brancos civilizados finalmente livram as terras dos selvagens pagãos.


FONTE: SAKAMOTO

quinta-feira, 14 de maio de 2009

ATENTADO A BOMBA COMPLETA 3 ANOS

Há três anos, na região de Dourados, os ruralistas promoviam grandes manifestações. Tratores e colheitadeiras ocuparam os canteiros centrais da cidade, e, em frente à Agenfa, se posicionou a coordenação do movimento, formada pelas lideranças. Camionetes de cabine dupla remontavam por cima do meio-fio, e, à força, as lideranças queriam que as pessoas não adentrassem àquela repartição pública. E a baderna continuou por semanas, inclusive ameaçando a sociedade com desabastecimento. Um grupo, notadamente alcoolizado, invadiu o Sindicato dos Bancários, e, com palavras de baixo calão, tentou intimidar lideranças sindicais e autoridades ali presentes. Na tarde de 14 de maio de 2006, Dia das Mães, o escritor Brígido Ibanhes fez publicar um artigo no Dourados News (O Grande Circo Político dos Agricultores), onde, reconhecendo em parte as razões, criticava a truculência dos ruralistas, e denunciava que o movimento era político-partidário. Brígido foi fiscal do Banco do Brasil por muitos anos, e sempre lutou em benefício dos pequenos e médios agricultores, e afirma que, entre os graúdos, têm alguns que só querem a verba do governo para gastos supérfluos, e que não se incomodam em ficar devendo, pois, amanhã ou depois, com a ajuda de algum político, dão um jeitinho. O artigo foi publicado no domingo (Dia das Mães), à tarde. Quando foi à noite, uma bomba (coquetel molotov) de alto poder destrutivo, explode na sala da sua casa, onde o escritor e sua esposa assistiam a tevê. Ambos sofreram queimaduras graves. No dia seguinte (segunda-feira), o deputado Zé Teixeira fez publicar um artigo em vários jornais, em que, ao invés de explicar as irregularidades citadas pelo escritor, passa a atacá-lo, tentando desmoralizá-lo. O inquérito policial instaurado para apurar o atentado, não chega a conclusão algum, por falta de interesse das autoridades, e o terrorista do Dia das Mães continua solto.

O ARTIGO: O grande circo político dos agricultores
Brígido Ibanhes
O que deveria ser um movimento legítimo de reivindicações, acabou se transformando num palanque para pretensos políticos de oposição ao Partido dos Trabalhadores. Basta ver o que se escreveu na porta da Agenfa de Dourados: “Fora PT”. Não disseram “Fora Lula”, que representa o governo, mas fora ao PT. Algumas lideranças, na ânsia de se promoverem, com vistas aos próximos pleitos eleitorais, armaram um grande circo aqui em Dourados.
Por longos anos fui fiscal do Banco do Brasil, e nunca vi uma classe que chora tanto. Era uma choradeira nos meus ouvidos quando fazia as vistorias. A lavoura poderia estar com ótima produtividade, mas sempre eles acham alguma coisa para chorar: é o preço que não está bom; são as dívidas nos bancos; etc.etc. No entanto, quando ia verificar, o sujeito estava de carro importado novo, ia passar férias nas praias badaladas, etc. Em conluio com políticos, roubaram tanto que acabaram com o Proagro, que era o seguro agrícola. Isso não é regra geral, mas, principalmente os grandes lavoureiros.
Hoje vejo que não eles mudaram nada. Nem se importam com as outras classes que compõem a sociedade, além de não terem o mínimo respeito pelas coisas públicas e pelas pessoas. Para eles, os índios, os sem-terras, os miseráveis, podem morrer de fome que não estão nem aí. Isso ficou claro no discurso de um dos tais líderes no Sindicato dos Bancários.
O Governo Federal, considerando que a agricultura, não exatamente as grandes monoculturas, é um dos baluartes da economia, vem liberando recursos, mais de bilhões, para amenizar a crise do campo. Mas, eles não estão satisfeitos aqui em Dourados. Outro pretenso líder já declarou que seriam necessários mais de 30 bilhões para solucionar os seus problemas, isto é, continuar dando boa vida aos maus administradores da agricultura. Quando a safra é boa, não se preocupam em fazer uma poupança para se acudir nos maus tempos. É sempre assim, é mais fácil pressionar o governo.
É verdade que o dólar caiu e trouxe para baixo o preço de comércio internacional da soja; é verdade que o clima não tem colaborado muito, isso até em função do desmatamento para se plantar essas mesmas lavouras; tudo isso a sociedade entende. Só não entende como um movimento legítimo de uma classe se transformou numa anarquia, onde tudo é válido: ofender os outros, tripudiar nas autoridades e, principalmente, coagir a população com ameaças de desabastecimento. Fica claro o movimento político por trás, até porque, aqui em Dourados, os produtores vieram a reboque de um movimento político que se denomina “Moraliza Brasil”.
Infelizmente a sociedade vai sofrer pela anarquia de algumas lideranças dos agricultores. O que poderia ser um movimento sério se transformou em arruaças de baderneiros com chapéu de couro...

terça-feira, 12 de maio de 2009

A Dor do Abandono

Era uma manhã de sol quente e céu azul quando o humilde caixão contendo um corpo sem vida foi baixado à sepultura.
De quem se trata? Quase ninguém sabe.
Muita gente acompanhando o féretro? Não. Apenas umas poucas pessoas.
Ninguém chora. Ninguém sentirá a falta dela. Ninguém para dizer adeus ou até breve.
Logo depois que o corpo desocupou o quarto singelo do asilo, onde aquela mulher havia passado boa parte da sua vida, a moça responsável pela limpeza encontrou em uma gaveta ao lado da cama, algumas anotações.
Eram anotações sobre a dor...
Sobre a dor que alguém sentiu por ter sido abandonada pela família num lar para idosos...
Talvez o sofrimento fosse muito maior, mas as palavras só permitem extravasar uma parte desse sentimento, grafado em algumas frases:
Onde andarão meus filhos?
Aquelas crianças ridentes que embalei em meu colo, alimentei com meu leite, cuidei com tanto desvelo, onde estarão?
Estarão tão ocupadas, talvez, que não possam me visitar, ao menos para dizer olá, mamãe?
Ah! Se eles soubessem como é triste sentir a dor do abandono... A mais deprimente solidão...
Se ao menos eu pudesse andar... Mas dependo das mãos generosas dessas moças que me levam todos os dias para tomar sol no jardim... Jardim que já conheço como a palma da minha mão.
Os anos passam e meus filhos não entram por aquela porta, de braços abertos, para me envolver com carinho...
Os dias passam... e com eles a esperança se vai...
No começo, a esperança me alimentava, ou eu a alimentava, não sei...
Mas, agora... como esquecer que fui esquecida?
Como engolir esse nó que teima em ficar em minha garganta, dia após dia?
Todas as lágrimas que chorei não foram suficientes para desfaze-lo.
Sinto que o crepúsculo desta existência se aproxima...
Queria saber dos meus filhos... dos meus netos...
Será que ao menos se lembram de mim?
A esperança, agora, parece estar atrelada aos minutos... que a arrastam sem misericórdia... para longe de mim.
Às vezes, em meus sonhos, vejo um lindo jardim...
É um jardim diferente, que transcende os muros deste albergue e se abre em caminhos floridos que levam a outra realidade, onde braços afetuosos me esperam com amor e alegria...
Mas, quando eu acordo, é a minha realidade que eu vejo... que eu vivo... que eu sinto...
Um dia alguém me disse que a vida não se acaba num túmulo escuro e silencioso. E esse alguém voltou para provar isso, mesmo depois de ter sido crucificado e sepultado...
E essa é a única esperança que me resta...
Sinto que a minha hora está chegando...
Depois que eu partir, gostaria que alguém encontrasse essas minhas anotações e as divulgasse.
E que elas pudessem tocar os corações dos filhos que internam seus pais em asilos, e jamais os visitam...
Que eles possam saber um pouco sobre a dor de alguém que sente o que é ser abandonado...
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A data assinalada ao final da última anotação, foi a data em que aquela mãe, esquecida e só, partiu para outra realidade.
Talvez tenha seguido para aquele jardim dos seus sonhos, onde jovens afetuosos e gentis a conduzem pelos caminhos floridos, como filhos dedicados, diferentes daqueles que um dia ela embalou nos braços, enquanto estava na terra.