quinta-feira, 26 de agosto de 2010

VIDAS MORTAS

Ao amanhecer, Everton já sabia quais as suas obrigações: Arrumar a cama, varrer a casa, cuidar dos irmãos, fazer comida, tomar banho e ir pra escola. O pai foi assassinado em uma emboscada, armada por policiais para prender bandidos. O infeliz, ferido por engano, se tornou traficante depois de morto.
Quando estava quase acabando os afazeres, Everton ouviu um barulho no telhado. Colocou a cabeça do lado de fora. Apressado, fechou tudo. Estavam invadindo o morro. Já era a segunda vez, só essa semana. Mandou os irmãos ficarem quietos no quarto. "Merda"! Zequinha estava na rua.
O barulho de fogos, misturado ao de tiros... O caveirão já vinha subindo. Deveria ser rápido em encontrar o irmão caçula. Ao descer as escadas do barraco, pode avistar de longe a figura franzina de Zequinha, segurando uma pipa e correndo em direção a sua casa pelo beco.
Zequinha desceu ao chão... A pipa subiu aos céus... Everton viu sua vida mudar.... Nunca mais iria sonhar...
FIM

POR: Evandro Santos Pinheiro e
Fabio da Silva Barbosa

domingo, 15 de agosto de 2010

A POLITICA DIVINA

- E que Deus acompanhe vocês.

Pastor João termina o culto com sua frase habitual. Tinha de se apressar para a reunião do partido. Pastor, político e dono de uma clínica de reabilitação. O tempo estava curto. Entrou no carro e partiu rumo ao seu futuro político.

Em outro canto da cidade, Areovaldo catava comida azeda do lixo de um restaurante. Papelão, latinhas e outros recicláveis eram recolhidos para o sustento da família. Analfabeto, pai de seis filhos, seu endereço era localizado embaixo de um viaduto, sentia certa decepção por não poder proporcionar uma vida melhor aos filhos, tinha quase certeza que sua prole estava fadada ao fracasso. Prédios, edifícios, condomínios de luxo, áreas cercadas por seguranças, em meio ao tumulto normal da grande metrópole. Habitualmente sua esposa ajudava na complementação da renda da família, vendendo balas e doces no semáforo.

Ao atravessar a rua, avistando uma promissora pilha de lixo, Areovaldo se descuidou e foi atingido em cheio por um carro 0 km que vinha em alta velocidade. O corpo subiu, caindo no pára-brisa, que se espatifou. Pastor João socou o volante, soltando um sonoro "Puta que o pariu". Abriu a porta e se pôs de frente para o corpo que jazia em sua última aquisição material. Olhou para os lados, percebendo a rua deserta. Pensou alguns segundos e atirou a vítima no asfalto. Entrou no carro e partiu em retirada. Foi blasfemando até a casa de um irmão de fé e companheiro de partido, que morava nas redondezas.

Após algumas horas de conversa séria, articulações e conchavos, os acordos políticos estavam firmados. Os recursos financeiros viriam de varias fontes, mas uma em especial era o dinheiro sagrado, depositado pelos fieis para a obra de cristo Dinheiro conquistado pelo pastor, após horas de milagres, orações e profecias. Nada mais justo. Aliás, a justiça divina nunca falha. Muito menos a política divina realizada por homens de conduta ética ilibada. A questão de levantar mais grana era simples. Realizar campanhas de cura e libertação. Como sabemos, pastor João tinha contato forte com o criador. Nada mais que um diálogo seria necessário para que as coisas se resolvessem. Todos se dariam bem.

- Obrigado por mais essa, irmão.

- E a reunião que você teria agora? Já obteve resposta do seu suplente?

- Quando liguei para ele pedindo que me substituísse, pedi que ligasse apenas se tivesse algum problema. Amanhã meu mecânico vai vir concertar o carro aí na sua garagem. Pode deixar que vou cuidar bem do seu carro.

- Não tem problema. Tenho mais três na garagem da frente. Vá em paz, Pastor.

- Que Deus o acompanhe, irmão.

Amem.


Por: Evandro Santos Pinheiro e

Fabio da Silva Barbosa

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O PREÇO POR SER DIFERENTE

Titulo de livro, de filme ou novela talvez, mas a questão não é romanceada, é homofobia, que gera medo, depressão e morte, onde lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, são vitimas do preconceito e discriminação de uma parte da sociedade hipócrita e de fundamentalistas religiosos. Segundo o grupo Gay da Bahia a cada dois dias um LGBT é assassinado em nosso país, números alarmantes nos mostram que somos campeões em assassinatos por homofobia, e não são homicídios comuns, são esquartejamentos, mutilações, diversas perfurações por faca ou tiro.
Segundo a escala Kinsey de 07% a 12% da população mundial é homossexual, sendo que a orientação sexual pode ser homossexual (atração por pessoa do mesmo gênero), heterossexual (atração por pessoa do gênero oposto) e bissexual (atração por ambos os gêneros). O termo fica bem definido por orientação, ao invés de opção sexual, porque não se escolhe a sua forma de desejo, assim como o heterossexual não escolheu.
Por muito tempo a homossexualidade fora tratada como doença, ora por pecado e como crime, estes três tratamentos principais são ainda colocados em muitos países. No dia 17 de maio de 1990 a organização mundial de saúde (OMS) que desde 1948 classificava a homossexualidade como doença, retirou o código 302.0 (Homossexualidade) da Classificação Internacional de Doenças, declarando que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”.
Desta forma podemos colocar que há casos de pessoas que vivem uma vida aparentemente heterossexual e por imposição da família e sociedade na sua vida privada exercem a sua homossexualidade, segundo as associações de Travestis de São Paulo, os seus clientes na sua maioria são casados e na hora da relação amorosa os “machões” preferem ser passivos.
O estigma que o homossexual carrega muitas vezes o impede de viver a sua sexualidade abertamente, preferindo por vezes viver dentro do “armário”, trancado em casa, fechado nas drogas ou na igreja. O preço que se paga ao se assumir vai desde a rejeição e exclusão da família, escola, igreja, trabalho e de outras relações sociais. Sendo alvo constante de piadinhas, chacotas, brincadeiras maldosas, extorsões e humilhações.
Para tanto a orientação sexual deve ser respeitada, é isso que o movimento LGBT busca, não estamos reivindicando que a igreja os aceite, que os padres os casem, queremos a garantia de direitos.
Portanto o combate a homofobia deve ser feito através políticas publicas, discussões, porem de discussões despojadas do casaco da moralidade, do fundamentalismo religioso e acima de tudo da hipocrisia.

Autores:
Evandro Santos Pinheiro é membro do conselho municipal da juventude e do conselho municipal de assistência social
Anízio de Souza dos Santos é membro do conselho municipal antidrogas e diretor do departamento de direitos humanos

quarta-feira, 16 de junho de 2010

BULLYING NA ESCOLA

Carlinhos mal dormiu durante a noite. Sabia que o tormento iria recomeçar. Era a volta as aulas. Quando estava saindo de casa, a mãe o chamou. Ajeitou a camisa para dentro da calça e passou a mão em seus cabelos.
- Vai bonitinho para aula. Carlinhos não queria ir bonitinho, nem feio. Não queria voltar para aquele inferno. Olhou para a mãe como quem pedia ajuda. A mãe não entendeu.
- Vamos menino. Que foi? Tá virando pedra?
- Não. - Murmurou dando meia volta e caminhando para o portão.
A poucos passos do colégio, encontrou os "colegas". Justamente Pedro, o filho da professora, e sua turma. Pedro se sentia a última bolachinha do pacote e zoava com todos da classe, principalmente com Carlinhos, por ser gordo e de família pobre. Ao se aproximar de Carlinhos, Pedro lhe deu um empurrão que o derrubou. Quando ia levantar, levou uma rasteira. A gargalhada foi geral.
- Que houve moleque? Não consegue ficar em pé? - Falou um.
- O nojentinho não consegue andar. - Complementou uma das meninas que faziam parte da galera
- Para com isso. Não gosto desse tipo de brincadeira. - Reclamou Carlinhos.
- Iiiiiiiiiiiiiiiii... O feioso tá querendo bancar o valente. - Zombou Pedro.
Quando, de longe, avistaram a inspetora do colégio se aproximar e gritar tentaram disfarçar:
- Todos pra dentro! - Gritou ela
Era visível o desconforto do garoto. Constantemente açoitado pelos colegas, tentava entender o que havia de errado com ele. As ditas brincadeiras iam deixando Carlinhos cada vez mais isolado e reprimido. Sentia-se o pior dos seres. Os insultos, piadas ao seu respeito e as humilhações em publico, faziam com que ficasse mais agressivo em casa. Os pais não entendiam.
- Não sei o que está acontecendo com esse garoto. Cada dia piora. Ooooo Idade.
No começo da aula, a algazarra dentro da sala era geral. O professor não conseguia controlar a turma. Mandar para diretoria se tornou rotina. A 6° serie era a turma mais terrível de se lidar. Uma semana depois do retorno as aulas, Carlinhos havia tomado uma decisão: Aquilo tinha de acabar. Pegou a arma que viu o pai esconder em cima do armário, colocou no fundo da mochila e foi andando rumo à escola. Chegando perto, lá estavam. Pedro e a turminha de sempre. Viram-no chegando e já se entreolharam sorrindo.
- Olha quem vem lá...
Carlinhos parou próximo a Pedro, olhou bem no fundo dos olhos e disparou:
- Tomá no cu.
Pedro empurrou Carlinhos
- Tá maluco moleque?
Carlinhos deu uns passos para trás e voltou bem pertinho do agressor.
-Tomá no cu.
Pedro não entendeu a atitude de Carlinhos, que sempre ficava quieto e ressentido pelos cantos quando era esculachado. Mas ele sabia que não poderia deixar ninguém manda-lo tomar no cu. As coisas não poderiam se inverter. Como deixar aquele feioso ofendê-lo.
- Seu filho da puta, ta pensando que é o que??? - Pedro encarou, dando-lhe um murro na boca
O sinal tocou e Pedro informou a Carlinhos que as coisas se resolveriam na hora da saída. Carlinhos deu de ombros, pegou sua mochila e entrou na sala de aula. Somente ele próprio sabia dos seus planos. Quando a aula começou, olhares intrigados eram trocados pelos alunos. Todos sabiam que no final da aula, quando batesse o sinal, iria ter pancada.
Chegada a hora da saída, Pedro foi na frente, para não deixar Carlinhos escapar. A turma de Pedro ia cercando Carlinhos. Chegaram no terreno baldio onde sempre ocorriam esses acertos de contas. Pedro jogou a mochila no chão e desafiou:
- Como é moleque? Tá preparado para a surra?
Carlinhos abaixou a mochila de vagar e com um gesto repentino meteu a mão dentro. Pedro correu em sua direção prevendo que algo estava preparado para a situação. Mas, antes de alcançar seu alvo, Carlinhos puxou o 38.
- Fica longe de mim.
Pedro parou com as mãos levantadas.
- Que isso moleque? Tá maluco? Guarda isso agora.
- Não. Isso acaba hoje. E ninguém chega perto.
Todos recuaram . Pedro não sabia o que fazer com a arma apontada para seu peito. Carlinhos estava com a mão o mais firme que conseguia, mas um leve tremor que insistia em percorrer seu corpo denunciava seu estado emocional dilacerado. Os olhos cheios d'água dividiam o foco entre Pedro e as outras pessoas em volta. Passado alguns segundos, que pareciam uma eternidade, Carlinhos balbuciou:
- Isso acaba agora...
Pedro entrou em pânico, os demais recuaram mais um pouco, alguns correram para longe, as meninas viraram o rosto, Carlinhos enfiou, rapidamente, o cano da arma em sua própria boca, puxando o gatilho. O corpo desmoronou sem vida. Pedro tentava fazer muitas coisas, mas não conseguia se mover. Nesse momento, a mãe de Carlinhos entra correndo pelo terreno com um bilhete em suas mãos que dizia: "Tudo acaba hoje. Não consigo mais. Adeus."


Por: Fabio da Silva Barbosa e
Evandro Santos Pinheiro

quinta-feira, 10 de junho de 2010

DOIS ASSUNTOS QUE RESULTAM EM UM

Desde a chegada dos europeus ao Brasil, os povos originários vêm sendo massacrados e saqueados pelos invasores. Mesmo depois de tanto tempo, o capitalismo ainda insiste em destruir o pouco que esse povo conseguiu conservar. Constantemente ameaçados de perder suas terras, sofrendo, inclusive, ameaças de morte (isso quando a morte não ocorre de fato), as comunidades indígenas vivem entre a insegurança e a opressão. A invasão de ontem e de hoje insiste em ir mais longe. A cultura destes povos é completamente destruída pela cultura dominante (o culto ao lixo modista e a mentalidade individualista). Quando os portugueses se apossaram dessas terras, trouxeram elementos devastadores para as crenças e costumes locais. Os jesuítas fizeram parte das engrenagens dessa máquina mortífera impondo sua verdade aos nativos. Verdade colocada como a única possível.
E os negros seqüestrados na África, trazidos como escravos até aqui? Foram obrigados a adorar deuses brancos e tiveram seus direitos totalmente usurpados. Reis viraram escravos do dia para a noite e crianças ficaram órfãs de pai e mãe. O Brasil recebia 37% de escravos de todo continente americano e em três séculos e meio de escravatura, nosso país recebeu aproximadamente cinco milhões de negros, sem contar que 55% morriam nos porões dos navios durante o trajeto. Após a bravura de grandes guerreiros e a pressão de outros países, o Brasil foi o ultimo a abolir a escravidão. Os negros estavam libertos, mas e daí? Sem assistência do estado, emprego, acesso a educação... foram jogados a própria sorte (que não era nada boa em uma sociedade extremamente racista). Sua cultura foi negada, sendo impedidos os cultos de religiões de matrizes africanas como o candomblé. A capoeira foi proibida e a lei da vadiagem entrou em vigor. Hoje a capoeira corre livre e aparentemente a opressão acabou. Aparentemente!
O racismo dissimulado no Brasil mostra constantemente suas garras. Isso é de tal forma imposto que negros acham que são brancos, sendo 50% da população negra e apenas 6% se assume como tal. Isso se deve ao nosso ensino eurocêntrico e pouco ser falado sobre o continente africano. Quando se fala deste continente é de forma preconceituosa, como se o continente fosse um único pais e só é retratado de forma estereotipada como o continente da fome, das guerras e da AIDS. Voltando aos índios,
que eram donos originais do país, como apresentado no início do artigo, esses foram ficando cada vez mais encurralados em pequenas áreas insuficientes para a sobrevivência das aldeias, sendo chacinados e oprimidos pelos grandes proprietários de terra. Atualmente, na Bahia, temos um grande exemplo desse desrespeito com a prisão do Cacique Babau e com a população indígena sendo perseguida como bandidos, quando, na verdade, estão lutando por seus direitos. Como condenar os métodos dessa luta se não existe a possibilidade de um diálogo honesto? Não deveríamos propor formas realmente eficazes para conquistarem seus direitos, ao invés de engordarmos os números carcerários?
Na época da chegada dos europeus nossa população indígena passava de 10 milhões e hoje está em torno de 400 mil índios. O relatório do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) 2008 mostra que a situação está insustentável, principalmente no Mato Grosso do Sul. Dos 60 assassinatos de indígenas no país, 42 ocorreram no neste Estado, cujas vítimas pertencem ao povo Guarani Kaiowá. O que nos chama também a atenção é que dos 34 suicídios registrados, todos ocorreram nessa população, sendo que 25 vítimas possuíam idade entre 13 e 25 anos. Ainda segundo o relatório do CIMI, no estado do Mato Grosso do Sul, foram localizados 409 trabalhadores nas usinas de cana de açúcar em condições degradantes ou análogas ao trabalho escravo. Desses 409, 150 eram indígenas dos povos Terenas, Kaiowá e Guarani.
Então é isso!
Negros e índios continuam sofrendo as mazelas de um povo que vem sendo oprimido há muito tempo. Isto está certo? Isto é justo? Vamos por a mão na consciência. A grande maioria não pode continuar apoiando os privilégios de uma minoria conservadora que não quer perder a mamata. Temos de gritar por mudanças enquanto é tempo. Descruze os braços. A hora é agora. Não adianta tapar o Sol com a peneira. Não há mais porque esperar. Talvez "daqui a pouco" seja tarde de mais.

Por Evandro Santos Pinheiro
e Fabio da Silva Barbosa

quarta-feira, 2 de junho de 2010

MASCARAS

Estava voando no seu carro a mil por hora. O expediente havia terminado e a orla de Copacabana o chamava. Iria começar sua parte predileta do dia. A escolha da parceira ideal para a noitada. Suas incríveis noitadas entre quatro paredes. O momento era único, como todo momento. Mas, naquele dia, já despojado do casaco da moralidade, sua mente fabricava constantes fantasias. Estava estimulado a seguir rumo ao contraditório e inexplicável. Luzes, espetáculos, futebol nada mais o interessava. Estava vidrado naquilo.
As garotas começaram a aparecer reluzentes pelos calçadões, mas não era isso que ele queria. Era outro tipo de garota. Um tipo especial. "Pronto!" Elas ficavam por essa parte. Travestis e transexuais se exibiam, mostrando todo o prazer que ele poderia ter se fizesse a escolha certa. "Pronto!" Ali estava ela. Luci Estrela, sua grande paixão. Nem a esposa, ou a amante o excitava tanto. "Merda!" Um carro o havia cortado. "Essa não! Só faltava..." O canalha passou a frente e parou bem no ponto para falar com sua estrela. Passou pelo adversário e olhou pelo retrovisor. Diminuindo a velocidade fizera o retorno.
- ahhh!!!- Respirava aliviado, o canalha que havia passado na frente... Havia só passado, - isso mesmo, o pensava, a feição mudou com sorriso, parecendo criança que acabara de ganhar o brinquedo que tanto desejava. Seta para direita, acenou para aquela que seria sua acompanhante da noite. Ao se aproximar, como já fazia de costume, combinou o preço e pediu que entrasse. Ela entrou. Pegou a direção do Motel. Quando viu já estavam no quarto. Tirou a roupa e mostrou a cuequinha com a bandeira do Brasil.
Da alta sociedade Dimitri no seu meio social se comportava sem expressão, fechado, controlando seus movimentos, sua voz, suas vontades, o sexo pago era sua forma de se satisfazer, sem ter compromisso. Achava menos arriscado, um típico inrrustido preso no armário da moral, dos bons costumes, da vida que não queria pra si, mas que a impuseram.
Após trocas de caricias, com o pênis já lubrificado a travesti pediu que ele ficasse de quatro, como já estava acostumado ser aposição predileta de seu cliente. Após horas de coitos e sexo selvagem, Dimitri volta para casa, aonde chegaria reclamando da reunião entediante que tivera depois do expediente. Amanhã estaria cedo no escritório, pronto para uma reunião com senhores tão moralistas quanto ele. Afinal, a tradição era muito apreciada em seu círculo de amizades.

POR: Evandro Santos Pinheiro e
Fabio da Silva Barbosa

segunda-feira, 31 de maio de 2010

INFÂNCIA PERDIDA

Abriu o saquinho e pegou a pequena pedra. Olhou bem para ela, mas sem muita demora. A latinha já estava pronta. Ajeitou na posição, colocou a boca e riscou o isqueiro. A fumaça que era inalada o fazia ficar ofegante e ao mesmo tempo ligeiro. Nela iam todos os seus problemas, suas angustias, seus medos... Tudo que acontecia a sua volta se fora em poucos minutos. Aproveitou a alteração de seu estado mental até o último instante. Mas a realidade logo vinha bater a sua porta. O mundo se reintegrando a sua volta. Precisava arranjar outro daquele belo anestésico.
Revirou os bolsos e constatou que acabaram as últimas moedas. Tinha de dar um jeito. Levantou cambaleante, segurando nas paredes. Olhou fixamente para a porta daquele quarto fedorento em que vivia e tentou uma linha reta. Ao se aproximar da porta sentiu o efeito passar, a compulsão o instigava a ir em busca de mais, Danilo tinha apenas 13 anos, porém, já havia vivido situações de difícil compreensão. Desceu as escadas as carreiras. Lembrou que o pai já não aparecia a mais de uma semana e pensou na última vez que viu sua mãe indo embora e o abandonando com aquele verme.
Ao chegar à rua olhou em volta. Havia um banco perto dali. Era época de pagamento. Virada do mês. A operação seria fácil. Era só esperar algum senhorzinho sair do banco com seus bolsos recheados de dinheiro e colocar suas mãozinhas de tesoura para funcionar.
O movimento de pessoas no banco era grande. Nos caixas eletrônicos haviam filas enormes. A grana de que ele precisava deveria vir sem muitas dificuldades. Pensamentos confusos bombardeavam sua mente. Cuidar de carro já fora época, o negocio era meter um 157. Derrepente viu um coroa saindo do banco com passos apressados. Sentiu o cheiro da adrenalina no ar. Era por ele que esperava. Não podia estar enganado.
Os pensamentos começaram a clarear. Perseguiu sua vítima, à distância, por alguns quarteirões. A hora era aquela. Não podia vacilar. Aproximou-se rapidamente, mas sem dar na pinta. Passou pelo coroa e pá... Um esbarrão e as mãozinhas escorregaram para dentro do bolso. Não podia ser. Bolso errado. O coroa segurou a mão que já partia em retirada.
- Ladrão... É ladrão...
Danilo jogou a vítima no chão e saiu em disparada. As vozes se multiplicaram.
- Pega ladrão! Pega ladrão!
Com uma rápida olhada para trás, viu algumas pessoas levantando o senhorzinho, que sumiu logo do seu campo de visão, por causa da rapaziada que estava correndo atrás dele. Olhou para frente e continuou correndo. Tirou o boné e escondeu dentro da bermuda. Deu mais uma olhada para trás. A multidão continuava na perseguição. Parecia ter mais gente.
- Pega ladrão! Pega ladrão
Mais a frente havia um cruzamento, de perto avistou o sinal que se abria e a multidão que o perseguia, vinha logo atrás. Era tudo ou nada. Passava ou seria pego. Teria que ser rápido. Em segundos sentiu o vento do ônibus passar como um tornado ao seu lado e sem parar de correr, percebendo que estava a salvo, continuou sua sina.
Pensou na igreja, na escola, na família, mas sabia que tudo era muito distante. Vivia no mundo sem regras. Conheceu a fome, as drogas e a prostituição muito cedo. Lembrou das vezes em que era espancado pelo padrasto, das humilhações que sofria da mãe... A vida passara como um filme sobre sua cabeça. Der repente algo, ou alguém, o segurou pelo braço. Sentiu o corpo subindo no ar e se chocando contra a calçada, foi logo rodeado pela multidão. Gritos indecifráveis chegavam ao seu ouvido, enquanto era golpeado por todos os lados. O Sol foi sumindo aos poucos... A boca ficando seca...
Algumas horas depois, nas rádios da cidade, o assunto fora divulgado com teor sensacionalista. Repórteres policiais, jornalistas e políticos se posicionaram a favor da redução da maior idade penal. No hospital o médico olhava para o garoto em coma. A prancheta fixava um papel que dizia : Traumatismo Craniano.
- Foi pego roubando. – comentou a chefe da enfermaria com o médico de plantão.
As pancadas que levou o deixaram em coma. Ao final da noite o médico atestou a morte cerebral. Um enterro com poucos parentes e nenhum amigo se seguiu. Aliás, como muitos não sabiam, Danilo tinha o sonho de ser jogador de futebol, mas a vida o reservou caminhos diferentes. Quem sabe se tivesse tido oportunidade?
Os dias passaram e com eles estão indo nossas esperanças. A falta de amor, de carinho e de solidariedade arraigam em nossa sociedade a indiferença que nos faz pensar: “Não temos nada com isso e a culpa é do outro”. Fazendo-nos acreditar que temos o direito de julgar e condenar de forma arbitrária e cruel.
Os mesmos que julgaram e puniram esse garoto, se anulam ao verem políticos roubando dinheiro publico da educação, saúde, assistência social, segurança... São milhões desviados e, a cada eleição, estão eles aí de novo. Ao invés de nos indignarmos, aplaudimos e depositamos neles nosso voto para que continuem roubando. Temos de dar um basta. Isso sim é revoltante. Temos de canalizar nossa ira para os grandes responsáveis por essa situação, onde pobres se matam, enquanto uma classe média apática e alienada assiste a todo esse espetáculo sórdido na grande mídia, sem expressar mais que algumas queixas sem efeito.


Por: Fabio da Silva Barbosa
Evandro Santos Pinheiro

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A PERGUNTA?

Mário era mais um novo detento no complexo carcerário de juiz de fora. Estava receoso, pois seria sua primeira noite na cadeia e já tinha ouvido várias estórias sobre a vida no cárcere. Sua cabeça perdida com idéias vagas, sobre quando descobrissem o que o levou até ali. Mário tinha medo de virar bonequinha nas mãos dos predadores que controlavam o sistema dentro e fora dos presídios. Mas, uma coisa era certa e fizera desde que entrou: Humildade, solidariedade e respeito aos mais antigos do pedaço. "Cagueta, Jack, nen talarico eu num sou!" Pensava acuado em seu canto.
O calor infernal aumentava o desconforto causado pela superlotação. Não havia mais nada para passar o tempo. O último estuprador que fora lançado na cela já tinha morrido. Assim não dava mais para agüentar. O frente do pedaço encostou-se às grades e chamou:
- Ô carcereiro.
- O que você quer rapaz?
- Tá um calor do caralho aqui. Já tem preso passando mal.
- O ar condicionado chega semana que vem. - Disse o carcereiro em tom irônico.
"Putz... o que fazer agora" pensava o frente.
– tem alguma coisa pra fazer nessa porra.
Mário estremeceu, percebendo que ao perguntar, os olhos do frente pararam nele.
- E você aí rapaz. Desde que chegou enrolou, enrolou e não disse por que veio parar aqui. Mário mudou de cor tentando balbuciar alguma coisa que não saiu.
O frente chegou perto e pôs os braços em volta do pescoço do novato.
- Seguinte. Tô vendo que boa coisa não foi, mas vou te dar uma oportunidade de não precisar contar sua história.
O carcereiro está muito folgado e a situação no pavilhão já está insuportável. Na hora do banho de sol, você vai esfaquear o filho da puta e a gente vai tomar conta do lugar
"Vou ter que assinar o 121, pra colocar banca na cadeia... Nun seria melhor eu contar minha historia... E se eles não entendesse."
- Truta, tem alguma coisa pra fumar, cabeça ta “milhão”.Perguntou um magrinho do canto
- Bola o baseado. Pô...
Mas como vocês têm isso aqui.
- Tá querendo saber demais. - Resmungou o barrigudo que estava encostado na parede.
- Que artigo é o seu, o sacana? – perguntou o preso da cela da frente.
De repente ele sentiu a mão do frente tocar na sua enquanto dava uma tragada no baseado.
- Segura a faca aí figura. Não olha não. Continua normal. Passa o baseado que tá rolando na de um. Pega a faca disfarçado e coloca malocada por aí.. Disfarçado. Agora é com você. Não tem como correr.
- Ô rapá. Tá ouvindo a pergunta não? Qual seu artigo porra?
- Não interessa. gritou o frente.
- O figura aqui ta fechado comigo.
Quem aporrinhar ele, tem de conversar comigo.
Mário aproveitou o momento em que todos olhavam para o frente e malocou a faca. O frente voltou a se aproximar dele.
- Mas agora rapá. Só de curiosidade. Que merda que você fez. Fala só para mim. Não precisa esquentar que não vai sair daqui. Nosso trato tá de pé.
Pior do que estava não podia ficar. Quando o dia amanhecesse as portas se abririam para o banho de sol. Aí... Aí ninguém sabia o que iria acontecer quando ele esfaqueasse o carcereiro.
- Sai, sai... - Gritava o carcereiro pedindo que todos evacuassem as celas.
Mário foi o ultimo a sair, o coração prestes a pular pela boca. Quando, no calor forte da emoção, desferiu um único golpe na barriga do agente do estado. A gritaria, o quebra-quebra geral, algazarra desenfreada... Os detentos atearem fogo nos colchões. Mário não imaginava que sua atitude poderia causar um transtorno daquele, em tudo que ele se metia dava errado. “Até na cadeia”. Pensava.
A rebelião tomou conta do presídio. Acertos de contas, tomada do poder... Tudo acontecendo ao mesmo tempo. A polícia cercou o local. Começaram as negociações. Ânimos cada vez mais exaltados. Mário tentou se esconder em um canto.
- Tá escondido aí né. Agora o frente não tá aqui para te ajudar. Vou te ensinar a responder com educação quando te fazem uma pergunta. Era o preso da cela da frente. Mário levantou os braços. Pediu calma. Disse que contaria o que ele quisesse saber. Mas agora ele não queria saber mais de nada. Com uma barra de ferro nas mãos o preso avançou a toda velocidade. Mário só sentiu a primeira pancada.A seqüência foi só para divertir o agressor.
Algumas horas depois a polícia já tinha invadido. Vários corpos se amontoavam no chão. O frente estava de cara no chão junto com outros sobreviventes. Pelo canto do olho tentava encontrar Mário. No dia seguinte soube do ocorrido. Um cara que tinha roubado uma lata de ervilha no mercado havia sido morto a pancada por não ter respondido a pergunta.

POR: Evandro Santos Pinheiro e
Fabio da Silva Barbosa

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A LENDA DA RAPOSA QUE VIGIAVA O GALINHEIRO

O carcereiro Montanha era o cara mais perverso que existia na penitenciaria. Nenhum bandido, por pior que fosse, era comparado a sua crueldade. Não se sabe como, ou porque, ele havia conseguido o que sempre quis. Fora transferido para a instituição responsável por menores infratores. Um prédio velho e decrépito, onde os menores eram amontoados. Ficavam a maior parte do dia pelo pátio. Montanha parecia estar no parque de diversões. Deu uma boa olhada em volta. Lambeu os lábios. Os olhos brilharam quando avistou o recém chegado. Era pequenino. Não devia ter mais de 14.
- Que confusão é essa aí? Que merda essa? – Gritava enquanto caminhava a passos largos rumo aos garotos que estavam implicando com o novato.
Os garotos abaixaram a cabeça e saíram de perto. Montanha se dirigiu ao pequeno alvo de seus desejos. A boca salivava.
- Como é garoto? É novo aqui?
O menino, com um pequeno gesto de cabeça, disse que sim.
- Eu também. Comecei hoje. - Sorriu o gigante dando uma discreta olhada em volta para ver se era observado.
Aquele frio na barriga, o coração que disparava, a sensação de euforia, o órgão que já saltava dando sinais de vida. Montanha, de personalidade agressiva, se derretia por garotos mais novos Principalmente aqueles na puberdade, sua fissura era grande, pois na infância havia sido molestado por um amigo próximo da família. Isso o conformava.
- Daqui pra frente vou cuidar de você. - Disse Montanha com ar paternal.
O pequeno olhou desconfiado.
- Em meia hora te encontro no pátio de trás. - O gigante foi andando a esmo, sem esperar a resposta da vítima.
Quarenta minutos depois, o menino apareceu no local combinado. Quando começou a procurar, foi atingido por um forte soco no rosto. Caiu de imediato. Piscou os olhos e virou para cima. Era Montanha.
- Filha da puta. Eu disse meia hora. Não tem relógio?
- Não
- Cala a boca viadinho. Tá pensando o que? Que tenho o dia todo? Vem cá. Dá uma mamada aqui. - Montanha sempre foi um cara estranho, seu fascínio por menores era doentio. Já pensara em suicídio. As fantasias o controlavam ao extremo.
Terminado o "serviço", o garoto lembrou-se da rua, onde já havia sido submetido a estes tipos de abusos. A cabeça começou a girar à medida que via seu "protetor" se afastar. Caiu e tudo apagou. Acordou na Enfermaria. Olhou em volta e viu uns poucos leitos vazios a sua volta. A memória estava confusa. A porta se abriu. Dela surgiu o agressor. Virou o rosto para a parede. No canto um cartaz dizia: "Aqui o governo cultiva um futuro melhor para nossas crianças."


POR: Evandro Santos Pinheiro
Fabio da Silva Barbosa

terça-feira, 6 de abril de 2010

DIREITOS HUMANOS PARTE I

O artigo 1° da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. A luta por afirmar direitos vem há muito tempo e os mais recentes, são os da independência dos Estados Unidos da America em 1776, Revolução Francesa em 1789 e após a 2° guerra mundial em 1948 com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que alias, serviu de base para a elaboração de muitas constituições inclusive a nossa de 1988. E a busca da garantia dos nossos direitos fugindo do estereótipo de que direitos humanos “é somente pra preso e bandido”, e assegurando o direito de todos à saúde, educação, assistência social, moradia, alimentação, renda e liberdade, sem a discriminação de raça, cor, credo, sexo, idioma, origem, condição social, opinião política ou qualquer outra distinção de caráter negativo.
Assim, no início deste ano veio a público o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH–3, criticado por alguns setores da igreja, forças armadas, Confederação Nacional da Agricultura – CNA, Rede Globo e outros seguimentos reacionárias e de direita. Os pontos de maior discussão e que também vem sendo alvo de críticas, são referentes à questão agrária, que defende uma forma diferente na resolução de conflitos para reintegração de terras ocupadas, o direito à verdade sobre os 21 anos da ditadura militar que assombrou o Brasil e que até hoje não se tem clareza dos fatos ocorridos durante o período, a legalização do aborto, cotas a grupos étnico-raciais historicamente desfavorecidos à ingressarem na universidade, o direito a união civil de homossexuais tendo uma maior abertura política a diversidade sexual e por fim um maior controle social dos meios de comunicação.Apoiamos o PNDH – 3, por entender que ele tem como missão reorganizar a democracia brasileira, garantir a participação popular, harmonizar a relação estado e cidadão e o comprometimento com a construção da cidadania, transparência, ética e com responsabilidade social. Além disso, o programa foi debatida na 11° Conferencia nacional de Direitos Humanos realizada no final de 2008, em 50 conferencias setoriais pelo país, tendo sido no último ano amplamente discutido em vários ministérios, não justificando o desconhecimento como muitos alegam.Assim defendemos um estado, laico, de bem estar social, que respeite os direitos humanos e que acima de tudo defenda a vida!

Autores:
Evandro Santos Pinheiro
Membro do conselho municipal da juventude
E
Anízio de Souza dos Santos
Diretor do Departamento de Direitos Humanos

terça-feira, 2 de março de 2010

ROSELI NUNES: PRESENTE!!!

Há vinte e dois anos o primeiro acampamento do MST perdia uma de suas grandes lutadoras. No dia 31 de março de 1987, Roseli Nunes e outros três trabalhadores Sem Terra foram mortos em uma manifestação na BR 386, em Sarandi, no Rio Grande do Sul.

Ela e outras cinco agricultores protestavam por melhores condições para os agricultores e uma política agrária voltada para os camponeses. Não existia, naquela época, política de crédito para a pequena agricultura.

Naquele dia um caminhão passou por cima da barreira humana que estava formada na estrada ferindo 14 agricultores e matando três: Iari Grosseli, de 23 anos; Vitalino Antonio Mori, de 32 anos, e Roseli Nunes, com 33 anos e mãe de três filhos.

A lutadora que hoje empresta o seu nome a acampamentos, assentamentos e brigadas do Movimento, marca a memória dos militantes com o compromisso de preferir "morrer na luta do que morrer de fome”. Roseli Celeste Nunes da Silva nasceu em 1954, e participou, com outras 8 mil pessoas da ocupação da fazenda Anonni, em 1985 - o mesmo local que neste ano sediou o 13º Encontro Nacional do MST, que marcou os 25 anos de luta do Movimento. Seguiu na luta, e participou de uma caminhada de 300 quilômetros até Porto Alegre, onde foi realizada uma ocupação da Assembléia Legislativa, por seis meses. Os acampados cobravam solução para a Reforma Agrária na fazenda.

Rose teve seu terceiro filho no acampamento. Deu a ele o nome de Marcos Tiarajú, em homenagem ao líder indígena do Rio Grande do Sul, que séculos antes já dizia que aquela terra tinha dono. Tiarajú, a primeira criança que nasceu no acampamento, hoje estuda medicina em Cuba.

Roseli Nunes foi a mãe da primeira criança a nascer no acampamento Sepé Tiaraju, na fazenda Anonni. Sua história inspirou dois filmes, “Terra para Rose” e “O Sonho de Rose”, de Tetê Moraes.

Fonte: Levante Popular

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

DO PADRE

Padre Eurípides já se impacientava. Os olhos passeavam pelas linhas da Bíblia, escorregando rumo a discreta porta lateral da capela e de lá para o relógio. Já fazia um quarto de hora que aguardava pela chegada de Eulálio.
- Ó senhor!
Depositou o livro sobre as coxas. A mão direita tateou, até achar o terço que repousava, desengonçado, sobre o comprido banco de madeira. Fechou os olhos e começou a murmurar alguma coisa, enquanto os dedos alisavam as contas do sagrado cordão. A porta lateral rangeu. Padre Eurípides se levantou com um salto. A Bíblia caiu.
-A pontualidade é uma virtude muito apreciada- repreendeu o sacerdote, com ar severo.
-Desculpe, padre. Mamãe demorou a dormir.
-Não tem problema.- Estudou o rapaz de cima a baixo.- Venha.- Pediu com delicadeza, estendendo os braços.
-Padre...
-Xxxiiiii... Não diga nada. Não é hora de falar- murmurou o padre, apertando Eulálio contra o corpo.- Porque demorou tanto?
-Mamãe...
-Xxxiiiii... Não fale. Não fale-apoiou a cabeça no ombro de sua querida tentação, tentando capturar todo frescor juvenil que exalava de seu pescoço. A voz estremeceu, embriagada pelo prazer. - Vamos para o altar.
-No altar?
-Não seja bobo- sorriu, segurando a mão de Eulálio.- Vem.
Chegando no último degrau pôs-se de quatro, descobrindo as nádegas brancas.
-Vem, Eulálio! Vem!
Eulálio desviou o olhar. Deparou-se com o cristo crucificado.
-Vem, Eulálio! Vem!
Eulálio pousou as mãos tremulas sobre as nádegas flácidas do padre.
-Vem! Vem!- Padre Eurípides virou a cabeça, fitando seu objeto de desejo. A suplica em seus olhos lhe dava um ar infantil.
-Ai, padre....
-Vem! Anda! Vem!
Eulálio abriu rapidamente o fechecler, descendo a causa até os joelhos. O membro, já meio endurecido, penetrou sem dificuldade no sacrossanto orifício. Padre Eurípides foi sacudido por bizarros frenesis. Começou a recordar os tempos de seminário. Do padre Francis. De como esse rigoroso mestre o introduziu nos mistérios da fé.
-Ah...Padre Fran

POR: Fabio da Silva Barbosa