sexta-feira, 7 de maio de 2010

A PERGUNTA?

Mário era mais um novo detento no complexo carcerário de juiz de fora. Estava receoso, pois seria sua primeira noite na cadeia e já tinha ouvido várias estórias sobre a vida no cárcere. Sua cabeça perdida com idéias vagas, sobre quando descobrissem o que o levou até ali. Mário tinha medo de virar bonequinha nas mãos dos predadores que controlavam o sistema dentro e fora dos presídios. Mas, uma coisa era certa e fizera desde que entrou: Humildade, solidariedade e respeito aos mais antigos do pedaço. "Cagueta, Jack, nen talarico eu num sou!" Pensava acuado em seu canto.
O calor infernal aumentava o desconforto causado pela superlotação. Não havia mais nada para passar o tempo. O último estuprador que fora lançado na cela já tinha morrido. Assim não dava mais para agüentar. O frente do pedaço encostou-se às grades e chamou:
- Ô carcereiro.
- O que você quer rapaz?
- Tá um calor do caralho aqui. Já tem preso passando mal.
- O ar condicionado chega semana que vem. - Disse o carcereiro em tom irônico.
"Putz... o que fazer agora" pensava o frente.
– tem alguma coisa pra fazer nessa porra.
Mário estremeceu, percebendo que ao perguntar, os olhos do frente pararam nele.
- E você aí rapaz. Desde que chegou enrolou, enrolou e não disse por que veio parar aqui. Mário mudou de cor tentando balbuciar alguma coisa que não saiu.
O frente chegou perto e pôs os braços em volta do pescoço do novato.
- Seguinte. Tô vendo que boa coisa não foi, mas vou te dar uma oportunidade de não precisar contar sua história.
O carcereiro está muito folgado e a situação no pavilhão já está insuportável. Na hora do banho de sol, você vai esfaquear o filho da puta e a gente vai tomar conta do lugar
"Vou ter que assinar o 121, pra colocar banca na cadeia... Nun seria melhor eu contar minha historia... E se eles não entendesse."
- Truta, tem alguma coisa pra fumar, cabeça ta “milhão”.Perguntou um magrinho do canto
- Bola o baseado. Pô...
Mas como vocês têm isso aqui.
- Tá querendo saber demais. - Resmungou o barrigudo que estava encostado na parede.
- Que artigo é o seu, o sacana? – perguntou o preso da cela da frente.
De repente ele sentiu a mão do frente tocar na sua enquanto dava uma tragada no baseado.
- Segura a faca aí figura. Não olha não. Continua normal. Passa o baseado que tá rolando na de um. Pega a faca disfarçado e coloca malocada por aí.. Disfarçado. Agora é com você. Não tem como correr.
- Ô rapá. Tá ouvindo a pergunta não? Qual seu artigo porra?
- Não interessa. gritou o frente.
- O figura aqui ta fechado comigo.
Quem aporrinhar ele, tem de conversar comigo.
Mário aproveitou o momento em que todos olhavam para o frente e malocou a faca. O frente voltou a se aproximar dele.
- Mas agora rapá. Só de curiosidade. Que merda que você fez. Fala só para mim. Não precisa esquentar que não vai sair daqui. Nosso trato tá de pé.
Pior do que estava não podia ficar. Quando o dia amanhecesse as portas se abririam para o banho de sol. Aí... Aí ninguém sabia o que iria acontecer quando ele esfaqueasse o carcereiro.
- Sai, sai... - Gritava o carcereiro pedindo que todos evacuassem as celas.
Mário foi o ultimo a sair, o coração prestes a pular pela boca. Quando, no calor forte da emoção, desferiu um único golpe na barriga do agente do estado. A gritaria, o quebra-quebra geral, algazarra desenfreada... Os detentos atearem fogo nos colchões. Mário não imaginava que sua atitude poderia causar um transtorno daquele, em tudo que ele se metia dava errado. “Até na cadeia”. Pensava.
A rebelião tomou conta do presídio. Acertos de contas, tomada do poder... Tudo acontecendo ao mesmo tempo. A polícia cercou o local. Começaram as negociações. Ânimos cada vez mais exaltados. Mário tentou se esconder em um canto.
- Tá escondido aí né. Agora o frente não tá aqui para te ajudar. Vou te ensinar a responder com educação quando te fazem uma pergunta. Era o preso da cela da frente. Mário levantou os braços. Pediu calma. Disse que contaria o que ele quisesse saber. Mas agora ele não queria saber mais de nada. Com uma barra de ferro nas mãos o preso avançou a toda velocidade. Mário só sentiu a primeira pancada.A seqüência foi só para divertir o agressor.
Algumas horas depois a polícia já tinha invadido. Vários corpos se amontoavam no chão. O frente estava de cara no chão junto com outros sobreviventes. Pelo canto do olho tentava encontrar Mário. No dia seguinte soube do ocorrido. Um cara que tinha roubado uma lata de ervilha no mercado havia sido morto a pancada por não ter respondido a pergunta.

POR: Evandro Santos Pinheiro e
Fabio da Silva Barbosa

Um comentário:

  1. interessante continue assim daqui uns estará ocupando a cadeira da Academia Brasileira De Letras,parabéns.

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