quinta-feira, 16 de abril de 2009

Triste lembrança de "O Rei do Gado"

Não é de hoje que a rede Globo exibe telenovelas cheias de preconceitos contra movimentos sociais: associações de moradores, estudantes, sem-teto etc. A gente pode tomar como exemplo a antiga novela das oito O Rei do Gado.

Não é de hoje que a rede Globo exibe telenovelas cheias de preconceitos contra movimentos sociais: associações de moradores, estudantes, sem-teto etc. A gente pode tomar como exemplo a antiga novela das oito O Rei do Gado. Em certo capítulo da tal "atração", um sem-terra foi conversar com um latifundiário e pediu que ele cedesse suas terras improdutivas aos lavradores pobres. O latifundiário - pasmem! - abriu prontamente portões da fazenda para que ela fosse ocupada de forma pacífica e consensual. Moral da história? Ora, os sem-terra da vida real só se envolvem em conflitos porque não têm civilidade suficiente para dialogar com os "pacíficos" e "bem-intencionados" fazendeiros. Noutra cena de "O Rei do Gado", foi mostrada uma passeata de camponeses pobres, todos com bandeiras brancas, ao fundo tocava uma trilha sonora alegre. Logo, porém, apareceu um sem-terra com uma bandeira vermelha, o tema musical tornou-se sombrio. Uma líder sem-terra "boazinha" arrancou a bandeira rubra do manifestante e jogou-a fora dizendo: "Que é isso, rapaz? Quer atear fogo no mundo?" Em vários diálogos da novela era dito que a reforma agrária não seria um assunto político ou social, mas meramente uma questão técnica que "todos" estariam dispostos a resolver, porém só os "competentes" seriam capazes de fazê-lo. Segundo a ideologia da novela, os camponeses nunca poderiam fazer a reforma agrária autonomamente: sempre dependeriam de fazendeiros e políticos. Aliás, um personagem mostrado por ótica bastante positiva era político: o senador Caxias. Curiosamente ele vivia de maneira pobre só porque se recusava a aceitar subornos. Ora, subsídio, "auxílios", "verbas indenizatórias" previstos legalmente já garantem luxo ostensivo, entretanto a novela mentia deliberadamente tentando fazer o povo acreditar que o rendimento de senador só permite uma vida modestíssima. O personagem Caxias morava num apartamento pequeno com a filha e a mulher, a qual volta e meia se queixava: "Se você aceitasse subornos não viveríamos nesta miséria". O "pobre" senador acabou morrendo baleado tentando apartar um conflito agrário desencadeado por "inconseqüentes" sem-terra. Fica até parecendo que os senadores são as grandes vítimas do país. Coitadinhos... Por essas e outras é nítido que telenovelas são lixo cultural e propaganda ideológica de quinta categoria. Elas são criadas para enganar o povo: fazer com que a gente aceite naturalmente os "reis do gado", "salvadores da pátria" e "donos do mundo" que nos oprimem na vida real. O melhor é boicotar tais porcarias, senão toda a programação televisiva.

AUTOR: WINTER BASTOS

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